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Rádio Eclesia

18/11 Comentários Homiléticos 32º DOMINGO COMUM
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1ª Leitura – Sb 6,12-16

O livro da Sabedoria de 19 capítulos poderia ser dividido em três partes. Primeira parte: 1-5 – mostra o papel da sabedoria no destino do homem e compara a sorte dos justos e a dos ímpios durante a vida e após a morte. Segunda parte: 6-9- expõe a origem e a natureza da sabedoria e os meios para adquiri-la. A terceira parte: 10-19- exalta a ação da sabedoria e de Deus na história do povo eleito. (cf. BJ: introdução ao livro da Sabedoria).

Nosso texto de hoje são apenas cinco versículos do início da segunda parte: origem e natureza da sabedoria, como também os meios de adquiri-la.

Origem e natureza

A sabedoria vem de Deus. Ela é o sentido da vida e o meio pelo qual o homem chega à plenitude da sua realização. Em Pr 24,3 a própria sabedoria revela sua origem: “Saí da boca do altíssimo e, como a neblina, cobria a terra”. Em Pr 8,23-24 diz a sabedoria: “Desde a eternidade fui estabelecida, desde o principio, antes da origem da terra. Quando os abismos não existiam, eu fui gerada” (…); o que é a sabedoria senão “ um eflúvio do poder de Deus, uma emanação puríssima da gloria do Onipotente… um reflexo da luz eterna, um espelho nítido da atividade de Deus, uma imagem da sua bondade”? (cf. Sb 7,25-26).

Às vezes, a sabedoria se identifica com o próprio Deus como artífice da criação do mundo: “ Quando firmava os céus, lá ela estava… quando assentava os fundamentos da terra, Eu estava junto com ela como o mestre de obras. Eu era seu encanto todos os dias” (Pr 8,27-29c.30).

Como podemos obtê-la?

A sabedoria se obtém de joelhos no chão, ou seja, através da oração, da meditação, da contemplação e não do estudo. Obtém-se a sabedoria através do contato com Deus – sua fonte – e não através dos livros. Os livros nos trazem cultura; a intimidade com Deus nos enche de sabedoria. Os vv. 12-14.16 dizem que a sabedoria se auto revela e facilmente se deixa encontrar. É através do amor que podemos contemplá-la. São João vai nos dizer que Deus é amor (1Jo 4,8). Como o amor “ a sabedoria é radiante e não fenece”. Ela se deixa encontrar por aqueles que a buscam. Isto não está próximo das palavras de Jesus sobre a eficácia da oração? “ Pedi e vos será dado; buscai e achareis, batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7-8). É através da oração que se obtém a sabedoria.

O v.15 mostra o efeito da sabedoria em nossa mente e em nossa vida, afirmando que a meditação da sabedoria é a perfeição da inteligência e a libertação das preocupações. Em Mt 5,48 Jesus nos exorta. “ Portanto deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” e em 11,30 nos faz um convite: “ Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

2ª Leitura – 1Ts 4,13-18

Estes poucos versículos – que podiam ser prolongados até 5,11 – revelam o essencial da primeira carta aos Tessalonicenses escrita no ano 51, portanto antes da escrita dos evangelhos. A 1 Ts é, aliás, o primeiro texto escrito do Segundo Testamento. Paulo está em Corinto de onde manda Timóteo a Tessalônica (1Ts 3,1ss). Além das boas notícias (vivência de fé, amor, lembrança dos ensinamento dos apóstolos – 1Ts 3,6) Timóteo traz também o problema que a comunidade levantou a respeito da parusia, ou a segunda vinda de Jesus, desta vez, na glória. A segunda vinda de Jesus (= parusia) era esperada como a visita do Imperador a uma cidade. Havia toda uma preparação, uma grandiosa e imperdível festa para todo o povo. Ninguém queria ficar de fora. E aqui está o problema. E os que já faleceram? Vão ficar de fora? Talvez isto revele uma preocupação solidária dos parentes e amigos dos falecidos.

O pensamento do v.13 concluído no v.18, quer trazer uma resposta para essas preocupações de alguns membros da jovem comunidade. Eles vão ficar consolados (v.18) com a explicação do apóstolo. Há os que têm esperança que são os cristãos, que não tem motivo para tristeza. E há os que são tristes por não gozarem da esperança dos cristãos de um dia estarem para sempre com Senhor (final do v.17). Estes são os pagãos que não acreditam na ressureição. A morte é muitas vezes no Primeiro como no Segundo Testamento comparada com o sono (cf vv. 5.10). Quem está dormindo vai acordar, assim também para os que tem fé: quem morreu vai ressuscitar. O v. 14 traz esta afirmação da fé na morte e na ressurreição de Jesus e, por conseguinte, também na ressurreição dos que já morreram (ou adormeceram) em Jesus. O final do v. 15 e o final do v. 16 trazem a boa nova de que os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Quer dizer, eles vão participar sim da grande festa quando o Senhor vier a sua glória. E ainda mais, estarão na frente dos que ainda estiverem vivos neste dia. Este dia especial, chamado “o dia do Senhor”, é o dia da intervenção de Deus, julgando ou libertando o homem. É o conceito do Primeiro Testamento (por exemplo Jl 3-4 – dia em que Javé salvará seu povo e castigará seus inimigos. Poderíamos ver também Sf 1,7-18; Is 34, etc.) Este conceito do “dia de Javé” passa para o Segundo Testamento como “ o dia do Senhor” (cf 1Ts 5,2.4), como referência ao juízo ou ao dia do retorno do Senhor na glória, para a salvação dos que creem. Os vv. 16 e 17 descrevem “o dia do Senhor” com o repertório imaginativo dos apocalipses: “sinal dado à voz do Arcanjo e ao som da trombeta divina”; descida do céu” e “ arrebatamento nas nuvens” (Mt 24,30-31; Is 27,13; Dn 7,13; 2Ts 1,6-8, etc).

Evangelho – Mt 25,1-13

O Evangelho segundo São Mateus é composto de cinco livrinhos, contendo cada um, uma narrativa e um sermão. Somando os relatos da infância, da paixão- ressurreição vemos que o Primeiro Evangelho se constitui de sete pares. Nosso texto está aberto dentro do quinto sermão, que é chamado de Sermão Escatológico, porque faz referência às últimas coisas, aos últimos acontecimentos decisivos na nossa vida.

O assunto de hoje é a parábola das dez virgens. É o tema da responsabilidade e vigilância ativa diante do futuro escatológico, ou seja, diante dos acontecimentos decisivos e últimos. A parábola centraliza-se na demora do Senhor para salientar a importância da vigilância ativa (cf. Mt 24,44;25,10), quando for
ouvido o anúncio da chegada do esposo. As moças, que simbolizam nossa conduta de cristão, podem ser sábias ou sem sabedoria, sem prudência, como aqueles que constroem sua casa sobre a rocha ou sobre a areia (cf 7,24-27). Prudência e insensatez são temas sapienciais (cf. 1ª leitura).

A parábola se fundamenta nos costumes locais. A festa tinha início na casa da noiva. Quem costumava atrasar, às vezes, até demais, era o noivo com seus amigos. Quando se anunciava que o noivo estava chegando para buscar a noiva, saía um grupo de jovens solteiras da casa da noiva, para acompanhar os cônjuges, até a casa do noivo para continuarem a festa. Como isso acontecia de noite, entra a necessidade de tochas acesas e do óleo. As tochas só se mantinham acesas por quinze minutos. Depois era necessário mais óleo. As tochas, o óleo e a noite introduzem o tema da vigilância ativa e da responsabilidade pessoal, da prudência para não faltar o óleo para as tochas, O óleo ou tochas sempre acesas simbolizam a sabedoria de uma autêntica vida cristã no exercício das virtudes evangélicas. Jesus compara o Reino de Deus como o caso das dez jovens que saíram com suas tochas (lamparinas) para receber o noivo. Há dois grupos de moças. A metade era insensata e a outra metade era sensata ou prudente. Isto serve para introduzir o tema do julgamento e da eleição (cf. Mt 25,32… “…ele separa um dos outros como um pastor separa suas ovelhas dos cabritos”). Aqui entra o tema da primeira leitura, tirada do livro da sabedoria. Diante do sentido último da vida está em jogo a sabedoria ou a falta de sabedoria, a prudência ou imprudência.

O que acontece na parábola? As moças insensatas esqueceram-se de levar azeite de reserva para a espera do noivo (v.3). Como o noivo tardou demais, todas dormiram. De repente, à meia noite, chega a notícia da aproximação do noivo. Todas levantaram-se depressa e começaram a preparar as lamparinas. Aqui está o problema. Por falta de azeite as lamparinas das insensatas não paravam acesas. Estas pedem às virgens prudentes um pouco de azeite, mas as prudentes, com medo de faltar azeite para todas, aconselham as insensatas a saírem para comprar. O v.10 noticia que, enquanto elas saíram, o noivo chegou e as que estavam preparadas entraram com ele para o banquete das núpcias, e a porta foi fechada. As moças insensatas chegaram mais tarde, pedindo ao noivo para abrir a porta, mas a resposta foi taxativa no v.12: “Eu vos asseguro que não vos conheço” (cf. 7,23; Lc 13,25-27), ou seja, vós não fostes prudentes, não usastes a sabedoria, não soubestes estar vigilantes, não vivestes uma autêntica vida de disciplina, não fostes fiéis, portanto, não posso reconhecer-vos como minhas seguidoras. Jesus encerra a parábola no v. 13, advertindo-nos sobre a incerteza da hora da chegada do noivo (que é Ele mesmo): “ Portanto, vigiai, porque não conheceis o dia nem a hora”.

Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga