1ª LEITURA – Is 5,1-7
O poema da “Vinha do Senhor” conta a decepção que Deus teve com o seu povo. Como o agricultor, Deus plantou uma vinha, que é o povo de Israel, e tomou todos os cuidados necessários para que sua vinha produzisse uvas saborosas. Na hora da colheita só encontrou uvas azedas. O profeta, que fala em nome de Deus, convida os ouvintes a serem juízes entre o agricultor e a vinha; convida-os a responder a esta pergunta carregada de ternura e dedicação e ao mesmo tempo de ressentimento. “O que poderia ainda ter sido feito por minha vinha e eu não o fiz? Eu contava com uvas gostosas, mas por que ela produziu uvas azedas?” Os ouvintes, habitantes de Jerusalém e cidadãos de Judá, parecem responder: “Na verdade o Senhor fez tudo! O Senhor só poderia esperar uvas saborosas!” Os ouvintes, implicitamente, aprovam a decisão do Senhor da vinha. Que decisão ele tomará? Ele vai proceder exatamente ao contrário do que fez anteriormente. Vai deixar a vinha totalmente desprotegida, vai derrubar a sua cerca e vai entregá-la à devastação. Não vai cuidar dela mais. Inclusive, vai proibir as nuvens que a molhem com chuva. É aqui que começamos a descobrir que o agricultor é o próprio Deus. O verso seguinte, de fato, diz: “Pois a vinha do Senhor Todo Poderoso é a casa de Israel, e os cidadãos de Judá são sua plantação querida”. Com todo zelo de agricultor, com todo o carinho de uma mãe, Deus liberta seu povo da escravidão egípcia e o planta na Terra Prometida, para produzir uma sociedade justa e fraterna. Deus não tinha mais nada a fazer senão esperar os frutos desejados. Mas ao invés de reinar o direito, “domina a violação do direito”, ao invés da justiça esperada, “só se ouvem os gritos dos injustiçados”.Em sua decisão, o agricultor disse que vai deixar sua vinha “ser devastada e calcada aos pés”. É uma referência à invasão do exército assírio que devastará o país de Israel, que é a vinha do Senhor. Israel não deu os frutos desejados do direito e da justiça, cerca protetora; agora não poderá reclamar da ruína.
2ª LEITURA – Fl 4,6-9
Qual o significado desse v.6?: “Não se angustiem com nada: sempre em orações e súplicas com ação de graças apresentem suas necessidades a Deus”. O que angustiava a comunidade? Entre outras coisas temos uma referência no v. 2, onde duas líderes da comunidade Evódia e Síntique estavam brigadas. Paulo pede que elas façam as pazes. Parece que o v. 6 nos remete a um contexto de celebração comunitária, onde as necessidades devem ser apresentadas a Deus juntamente com orações, súplicas e agradecimentos. O momento da celebração eucarística traz para todos essa serenidade de espírito, essa tranquilidade de que todos precisamos para a boa convivência e para pedir e agradecer a Deus. A celebração é uma espécie de oásis diante das angústias e dos conflitos em que vivemos. Como consequência de nossa celebração (orações, súplicas e ação de graças) nossas orações se encherão da paz de Deus em Cristo Jesus. Finalmente, Paulo aponta o ideal do comportamento do cristão. O cristão deve estar sempre voltado para o que é virtude, o que merece louvor. Termina colocando-se como exemplo. Os filipenses devem espelhar- se nas palavras e no comportamento de Paulo, assim o Deus da paz estará com a comunidade.
Esta parábola dirigida aos chefes do povo de Deus se inspira no canto da vinha (Is 5,1-7 – 1ª Leitura). O proprietário é Deus, a vinha é o povo e os vinhateiros são os chefes do povo, representados aqui pelos Sumo-Sacerdotes e anciãos. Como em Isaías, Deus cercou a vinha de todos os cuidados possíveis. Ela tem tudo para produzir seus frutos de justiça e direito. Esses cuidados do proprietário pela sua vinha sintetizam todo o zelo de Deus ao longo da história do seu povo. “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos”; lembremos que os vinhateiros são os chefes do povo. E quem são os empregados? São os mensageiros – os profetas – que Deus vai enviando ao seu povo ao longo da história. Mas o que os vinhateiros fazem com os empregados? Não os acolhem. Pelo contrário, vão sendo cada vez mais agressivos com eles: agarram, espancam, apedrejam e matam. O proprietário, paciente e incansavelmente, manda outros empregados. Mas a crueldade se repete. O proprietário, ainda esperançoso, envia seu próprio Filho, pensando que ao Filho eles respeitariam. É Deus esgotando todo o seu amor por nós. Arriscando o que tinha de mais precioso. É a última tentativa de Deus, mas é também a última chance dos vinhateiros. E o que acontece? Deus sentiu de perto a trama da maldade humana nos representantes do povo. Perpetuam a injustiça, pisam no direito e eliminam os portadores destes ideais. Não respeitaram nem mesmo o Filho de Deus, mas ambicionaram sua herança. Aqui, vemos o sentido da ambição e poder sobre o povo. “Agarraram o Filho, jogaram-no fora da vinha e o mataram”. Jesus, de fato, foi morto fora dos muros da cidade. A essa altura, Jesus lança para eles uma pergunta provocadora. “Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” Eles responderam ingenuamente sobre o próprio destino: “com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão o fruto no tempo certo”. Jesus, primeiro, cita o Sl 118,22s, mostrando-se como a pedra angular sem a qual nenhuma construção se sustenta. Ele é, portanto, a sustentação do povo de Deus, que vai produzir frutos de justiça e direito. Em segundo lugar, Jesus decreta a sentença contra os chefes do povo: “O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos”.
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga