1ª LEITURA – At 2,1-11
A inspiração de Lucas
São Lucas faz um paralelo do Pentecostes cristão com a Páscoa Judaica e a revelação da Lei do Sinai. Assim como a revelação do Sinai aconteceu 50 dias após a Páscoa Judaica = (saída do Egito); assim, o Pentecostes acontece 50 dias após a Páscoa cristã. A perspectiva de João como vimos é outra, mas a realidade é a mesma: a vinda do Espírito Santo. Para Lucas assim como no Sinai nasce o antigo povo de Deus, no Pentecostes nasce o novo Povo de Deus não recebendo uma nova lei, mas o próprio Espírito Santo, realizando, assim a Nova Aliança predita pelos profetas (cf. Jr 31,31-34; Ez 11,19-20).
O dom do Espírito Santo (vv. 1-4)
São Lucas reproduz os acontecimentos do Sinai. A promessa de 1,9 começa a se realizar. O Espírito Santo irrompe sobre a Igreja como Deus se manifestou no Sinai. Os mesmos elementos reaparecem: “barulho como o rebentar de uma forte ventania”, “línguas como que de fogo”. O fogo recorda os relâmpagos, trovões e o fogo do Sinai (cf. Ex 19,16-19). As línguas simbolizam as comunidades da Igreja. A Igreja se capacita para falar a língua que todos os povos compreendem, ou seja, a linguagem do amor. Acontece o contrário de Babel (Gn 11,1-9): não uma confusão por causa do orgulho e do egoísmo, mas o entendimento por causa do amor.
A missão da Igreja (vv. 5-11)
Lucas coloca no início da Igreja aquela realidade que ele presenciava no final do século, quando ele escrevia os Atos dos Apóstolos, ou seja, o fato de a Igreja já ter se espalhado entre os diversos povos e culturas. As testemunhas do fenômeno de Pentecostes, ou seja, da presença do Espírito Santo na Igreja são todos os povos. Os presentes indagam perplexos sobre o que estão ouvindo. A longa enumeração dos povos (vv. 9-11) salienta, ainda mais, a maravilha. O texto quer salientar as maravilhas de Deus em nossa vida de missionários para cumprir a própria missão de Cristo: viver e propagar o amor a todos os homens, para uma vivência fraterna, justa e solidária. Herdando a missão de Cristo, a Igreja herda também a linguagem do seu Espírito que é a linguagem do amor. Repete o fenômeno de Pentecostes, enche-se do Espírito Santo não quem entra em êxtase, não quem recebe o dom repentino de carismático, mas quem sabe falar e viver a linguagem do amor, quem é capaz de viver em comunidade.
2ª LEITURA – 1Cor 12,3b-7.12-13
O texto quer salientar a Igreja corpo de Cristo como uma unidade na diversidade. Apesar da diversidade de dons, de serviços, de atividade, temos um só Espírito, um só Senhor, um só Deus, que realiza tudo em todos. A comunhão da vida trinitária é que deve inspirar a convivência da comunidade cristã. O Espírito distribui seus dons, não para a vaidade de quem os recebe, mas para o bem comum, o bem de todo o corpo da Igreja. “Fomos batizados num mesmo Espírito, para formarmos um só corpo, e todos nós bebemos plenamente de um só e mesmo Espírito”. E o Espírito anula as distinções raciais, sociais, nacionais e nos leva à fé comum em Jesus como nosso Senhor. A Igreja de Corinto apresentava divisões, preferências e sectarismos, mas ao mesmo tempo, havia muitos serviços, muitos carismas. A imagem do corpo quer mostrar a Igreja como uma unidade de diversos membros, cada um desempenhando sua função em sintonia com os outros a serviço do mesmo corpo. Quer mostrar também que divisões e sectarismo não podem ter lugar na Igreja.
EVANGELHO – Jo 20,19-23
Jesus se manifesta e entrega seu Espírito aos discípulos ao anoitecer do primeiro dia da semana, o dia da ressurreição, o dia do Senhor, que em latim é “dia domingo”. Pela importância deste dia, as comunidades cristãs foram deixando de dizer: “Primeiro dia da semana” e começaram a dizer “Dia do Senhor”, ou seja, domingo e foram começando suas atividades no segundo dia da semana (segunda-feira). Assim a segunda-feira foi-se tornando o 1º dia de trabalho e o domingo cristão ficou sendo o sétimo dia. Deste modo o sétimo dia da semana, o dia do descanso não caía mais no sábado judeu, mas no domingo cristão – dia do Senhor. É nesse dia que as comunidades cristãs, à tardinha, celebram a Palavra e a Eucaristia (cf. Lc. 24,13-35; At 2,42.46; 20,7-11).
As portas fechadas lembram que a ausência de Jesus gera medo, enquanto sua presença gera alegria. Lembram também que para o corpo glorioso de Jesus não existem mais barreiras físicas. Jesus deseja a paz messiânica e se identifica com o crucificado; e os discípulos se alegram. Paz e alegria são as características da salvação final, da vida definitiva, gerada pela presença do Ressuscitado no meio da comunidade. Jesus, depois, envia os discípulos com a mesma missão que o Pai lhe havia confiado: revelar à humanidade o amor salvífico do Pai através da entrega do Filho. O objetivo geral é uma nova humanidade, uma nova comunidade, uma nova família fraterna, solidária cheia de vida. Para capacitar seus discípulos, para a missão, Jesus Cristo realiza uma nova criação e entrega seu Espírito, ele sopra sobre seus discípulos, lembrando o gesto criativo em Gn 2,7. A palavra explica o gesto: “Recebam o Espírito Santo”. É a criação de uma nova humanidade com seu Espírito de vida. É o Pentecostes no Evangelho de João. Os discípulos são enviados para a missão de formarem comunidades renovadas. Para isto eles são capacitados com o dom do Espírito Santo e o poder de perdoar ou deixar de perdoar os pecados do povo. Não é possível formar comunidades renovadas, sem a renovação interior, sem uma recusa da estrutura de morte oferecida pela sociedade. Esta conversão é selada pelo perdão. Os que optarem pela nova humanidade em Jesus recebem o perdão. Os que renegarem esta oportunidade de vida permanecem na morte, sem o Espírito de vida. O poder de perdoar pecados está bem claro no Evangelho (Mt 16,19; 18,18). Através dos tempos a Igreja vai criar as estruturas, determinar os agentes e o modo de administrar este perdão.
Fonte: Diocese de Caratinga