1ª LEITURA – Is 45,1.4-6
Estamos diante de um oráculo de investidura real referente a Ciro, rei da Pérsia entre 557 e 529. Foi através de um edito de Ciro em 538 que os judeus puderam voltar do exílio para Jerusalém. Isto é visto pelo “segundo Isaías” como uma ação direta da vontade de Deus. Assim, o profeta aplica a Ciro o que se dizia apenas dos reis de Israel: Chama-o de Ungido de Javé, pois Deus se serviu dele para libertar o povo e fazer justiça às nações. Para isto “tomou-o pela mão e abriu-lhe portas e portões”. Chamou-o pelo nome e lhe deu um título honroso e o poder real. Mas Deus fez tudo isto a um pagão em atenção a Jacó, seu servo e a Israel, seu eleito. Deus é o Senhor da história e o soberano das nações, por isto ele pode fazer uso dos reis pagãos para mostrar sua justiça e sua bondade a seu povo libertando-o da opressão do exílio. O texto insiste no fato de ser Deus o Senhor da história, apesar de Ciro o ignorar. Deus está concedendo a Ciro o poder real exatamente para que do Oriente ao Ocidente todos possam saber que não há Deus fora do Senhor.
2ª LEITURA -1Ts 1,1-5b
Saudação inicial
A 1Ts é o primeiro livro do Segundo Testamento. Foi escrito de Corinto no ano 51 por Paulo com a colaboração de Silvano (Silas) e Timóteo. Os cristãos de Tessalônica eram empobrecidos e explorados, mas eram chamados de “Igreja” por ser já uma comunidade bem organizada com objetivos bem definidos em torno da salvação trazida por Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo. “A graça e a paz,” que Paulo deseja à Igreja de Deus, é exatamente a plenitude desta presença de Deus que dá vida nova a esse povo que estava à margem do império de César. César não é Deus, César não é o Senhor. Deus é o Pai, é o Senhor, é Jesus e ele está vivo na comunidade.
Agradecimento e convicção de Paulo
Depois da saudação inicial, Paulo, como vai ser seu costume, agradece a Deus pela comunidade e reza por ela. Aqui, ele agradece por 3 coisas: pela fé, que é adesão à pessoa de Jesus morto e ressuscitado, pelo amor e caridade, que é a fé na prática, ou seja, um modo novo na convivência fraterna e, pela esperança, que é a nova mística, que abre os horizontes da comunidade e a impulsiona para a realização plena do projeto de Deus. Por fim, Paulo mostra a sua certeza de que os tessalonicenses “são do número dos escolhidos”, pois acreditaram na Palavra que foi pregada “com a força do Espírito Santo e, com toda a convicção”. Realmente o Espírito é a mola mestra da Evangelização.
EVANGELHO – Mt 22,15-21
O centro do Evangelho de hoje está na pergunta: É lícito ou não pagar o imposto a César? Quem faz esta pergunta são os discípulos dos fariseus e alguns do partido de Herodes. A pergunta é maldosa. Os fariseus são os mandatários. É uma cilada que eles armam para apanhar Jesus. Jesus vem desmascarando a justiça deles e eles querem eliminar Jesus de todo o jeito. Os do partido de Herodes apoiam o domínio de César. Os fariseus ficam em cima do muro tirando vantagem da situação; acham que basta cumprir a lei para serem fiéis a Deus e fecham os olhos diante de sua cumplicidade na exploração do povo.
Eles se aproximam bajulando Jesus, elogiando-lhe sua retidão e seu julgamento. Depois, lançam-lhe a pergunta maldosa: É lícito ou não pagar o imposto ao imperador? Se Jesus respondesse “sim”, Jesus estaria contra o povo, que está sendo explorado pela dominação romana e pede libertação. Se respondesse “não” estaria se revoltando contra o imperador e seria réu de condenação. Qualquer uma das respostas, portanto, agradava aos fariseus e herodianos e seria pretexto para prender Jesus.
Jesus percebe logo sua maldade e hipocrisia, a trama que armam contra ele. A primeira resposta de Jesus desmascara seus interlocutores: “Hipócritas por que me preparam uma armadilha?” (no original = por que me tentam?) Eles estão fazendo o mesmo papel do diabo nas tentações de Jesus. Seduzidos pelo poder, querem eliminar o Mestre da Justiça (cf. 4,1ss). De quem sustenta uma comunidade através da injustiça não se pode esperar outra coisa.
Depois, Jesus lhes pede para mostrarem uma moeda do imposto e eles caem na armadilha, que eles mesmos montaram, uma vez que reconhecem que aquela moeda pertence ao imperador, pois traz a sua imagem e ainda com títulos divinos, o que é contrário ao primeiro mandamento (cf. Ex 20,4; Dt 6,4). Se eles possuíam uma moeda é porque estavam comprometidos com o sistema e dele se beneficiavam. À pergunta deles se é lícito pagar o imposto a César, Jesus responde mandando devolver a moeda que traz a imagem de César, pois pertence a César. Jesus diz duas coisas: “Devolva a César o que é de César” e
“devolva a Deus o que é de Deus”. O povo não pertence a César, por isso deve devolver-lhe a moeda, libertando-se de sua dependência econômica. O povo pertence a Deus, pois o ser humano é imagem de Deus (Gn 1,22). Fariseus e herodianos legitimavam a dominação romana, pois disto tiravam vantagem. Jesus desautoriza esta dominação. Fariseus e herodianos devem devolver a César o que traz a sua imagem e lhe pertence. O povo deve, portanto, reconquistar a sua liberdade de filhos de Deus.
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga